Os Replacements ficaram com a fama da “banda que seria grande”, porém, mesmo em uma grande gravadora e com a MTV a esperar seus clipes, eles foram anárquicos até o final, - uma referência torta porém fundamental para os primórdios da música independente norte-americana...
O
novo “Do It Yourself”
O
panorama no início da década de 1980 era de uma ressaca sombria
após a festa colorida dos anos loucos de 1960-70. O frenesi do Punk
tal qual explodiu em Londres já era passado, as bravatas cínicas de
Malcom McLaren eram passado, o extermínio midiático dos Sex Pistols
e a miscelânea Dub-psicodélica dos Clash sedimentaram o fim de uma
etapa. Ficou um certo vazio, bem ambientado nos distritos áridos
norte-americanos.
Em Las Vegas, por exemplo, o Black Flag descobriu que poderia, sem o ônus da perda do espírito punk rock, castigar a sua van poeirenta atrás do diálogo com outras bandas de outros estilos – inclusive bandas psicodélicas ! O Minutemen flertou e aderiu a um certo espírito jazzy em seus espasmos de 3 minutos. Pelos lados de Minneapolis, o Husker Dü demonstrava que a introspecção também cabia dentro do punk rock: “Somos como repórteres do nosso próprio estado mental”, diria Bob Mould. Por fim, Paul Westerberg conduziu os Replacements a um espectro poético que unia o lado mais country dos Rolling Stones ao grito da rua dos New York Dolls - tudo temperado com a alma do Big Star.
Em Las Vegas, por exemplo, o Black Flag descobriu que poderia, sem o ônus da perda do espírito punk rock, castigar a sua van poeirenta atrás do diálogo com outras bandas de outros estilos – inclusive bandas psicodélicas ! O Minutemen flertou e aderiu a um certo espírito jazzy em seus espasmos de 3 minutos. Pelos lados de Minneapolis, o Husker Dü demonstrava que a introspecção também cabia dentro do punk rock: “Somos como repórteres do nosso próprio estado mental”, diria Bob Mould. Por fim, Paul Westerberg conduziu os Replacements a um espectro poético que unia o lado mais country dos Rolling Stones ao grito da rua dos New York Dolls - tudo temperado com a alma do Big Star.
Insatisfeitos
Havia algo que não
se encaixava muito bem... sempre houve algo que não se encaixava
muito bem.
Poderia ser essa a linha pela qual Paul Westerberg, vocalista e a
figura central na história dos Replacements, sempre caminhou – ou
se equilibrou: “Sinto como nunca fizesse a música que eu gostaria
de fazer, não sei como exprimir isso” e foi essa, justamente, a
forma de expressão dos Replacements: nunca saber inteiramente o que
se quer - Let
it Be,
- que não por acaso é o nome do terceiro álbum da banda, pelo pequeno selo Twin Tone
Records, que fez os Replacements surgirem como um meteoro partindo de
Minneapolis à incipiente cena alternativa norte-americana em 1984.
Em diversas ocasiões, Paul Westerberg insinuava que toda a geração precisava de um hino, algum marco de descontentamento vindo através de alguma obra de arte. Com “Bastard of Young”, os Replacements fizeram a sua parte. “Somos os filhos do nada, juventude bastarda “, é o grito dos Replacements ao american way of life, ao começo da famosa “década perdida”, à mecanização dos gestos e à música cada vez mais performática através, sobretudo, dos videoclipes sob encomenda da MTV.
“Bastards of Young”, por ironia, foi o primeiro
pedido da MTV aos Replacements. O resultado, como não poderia deixar
de ser, foi um dos videoclipes mais ácidos da história - na medida em que nele,
nada acontece. Não há cores, não há a banda e nem as várias
tomadas e ângulos sensuais e sensoriais que atiçam a imaginação
dos telespectadores. Há simplesmente um aparelho de som tocando a
música “Bastards of young”, uma sala simples, um ouvinte fumando
impacientemente que, ao final da música, chuta o aparelho de som e
sai da sala. Pronto. Aos entendedores, estava dado o recado.
(Clipe de "Bastards of Young")
Estava assim pavimentado o caminho da decadência
daquela banda promissora, na visão da grande indústria musical. Os
Replacements ainda lançariam o bom álbum “Please To Met Me
(1987)” dando indícios de que haviam finalmente parado com os
excessos de drogas e álcool e tinham resolvido chegar num consenso com a
grande mídia. Mas o tempo havia passado para eles.
Tudo Deu Errado ?
Mas, o que poderia explicar o fato de uma banda suar tanto para chegar a uma grande gravadora, ter a chance de “estrear” na MTV e em programas nobres da TV, lançar dois discos antológicos (Let It Be e Tim) muito bem recebidos pela crítica especializada, possuir um dos melhores e mais versáteis letristas de sua geração e, mesmo assim, ofuscar-se ?
Porém, ofuscar-se em relação ao quê? “Que
confusão com a escada para o sucesso, quando você avança um degrau
o anterior já está se apagando”, diz o primeiro verso de
“Bastards of Young” - talvez ele nos dê a resposta: o problema
pode estar na referência. Invertendo-se os pólos, se a insatisfação com um sistema falho de projetos e esperanças for a referência, talvez os
Replacements tenham triunfado, e muito. Dentro dessa perspectiva,
seguramente podemos colocar os Replacements ao lado do Husker Dü e do
R.E.M como os três pilares sobre os quais toda a cena underground
norte -americana futura foi se solidificando.
DISCOGRAFIA E DADOS TÉCNICOS
Paul Westerberg (Vocais e composição)
Bob Stinson (Guitarra) / Slim Dunlap (Guitarra, a partir de 1986)
Tommy Stinson (Baixo) Chris Mars (Bateria)
Minneapolis, EUA
Discografia:
Sorry Ma, Forgot To Take Out The Trash (1981)
Hootenanny (1983)
Let It Be (1984)
Tim (1985)
Please To Met Me (1987)
Don´t Tell a Soul (1989) – trabalho com músicas solo
de Paul Westerberg